sexta-feira, 12 de agosto de 2011

FHEMIG lança campanha de combate ao uso da droga

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Juliana Valim/Fhemig
A campanha começou com a promoção de ações de rua
A campanha começou com a promoção de ações de rua
BELO HORIZONTE (11/08/11) - Para atingir a população, principalmente os jovens, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) lançou, nesta quinta-feira (11), em Belo Horizonte, a campanha “Se liga! Crack não é brincadeira!”, no Centro Mineiro de Toxicomania (CMT). Com a participação do padrinho e músico Wilson Sideral, funcionários e especialistas da instituição, a campanha começou com uma ação de rua, com panfletagem em frente às escolas Instituto de Educação e Escola Estadual Pedro II.
No início deste mês, o governador Antonio Anastasia lançou o programa Aliança pela Vida, uma parceria do Governo de Minas com entidades da sociedade civil para fortalecer a luta contra as drogas. Para isso, estão sendo ampliadas as ações e implantadas medidas de enfrentamento aos problemas relacionados ao consumo e abuso de álcool e outras drogas, sobretudo o crack.
Busca por tratamento
Um estudo comparativo entre os usuários de drogas e álcool realizado pelo CMT mostra, que em 2010, do total de 921 pessoas que procuraram tratamento no CMT, o percentual dos usuários de álcool foi menor (39,63%) em comparação com os seis primeiros meses deste ano (40,41%). Historicamente, desde 1997, os usuários de álcool mantiveram um percentual em torno de 40% e os usuários de crack, em torno de 30%. Contudo, esse perfil vem se alterando gradativamente. Até junho deste ano, os usuários de crack (41,03%) ultrapassaram os usuários de álcool (40,41%).
“A Rede Fhemig vem trabalhando para difundir junto à sociedade que o problema da dependência tem cura. Os pacientes podem ser inseridos novamente ao convívio social se são acolhidos e tratados de forma humanizada e, ao mesmo tempo, abrangente, já que este tratamento é multidisciplinar”, explica o presidente da Fhemig, Antônio Carlos de Barros Martins.
Wilson Sideral lembrou que é a segunda vez que participa de campanhas da Fhemig no combate às drogas. “Estou orgulhoso de poder continuar ajudando numa causa em que acredito muito”. O músico contou sua trajetória desde os 16 anos, quando experimentou o primeiro baseado. O passo mais devastador foi o uso de cocaína, que o fez pedir ajuda. “Acredito que tem pessoas com maior disposição para a dependência química. Tenho consciência que sou doente, por isso, todos os dias comemoro quando acordo”.
Sideral lembrou a importância do apoio da família ao usuário. “Você sabe que eles não vão desistir, vão estar ali ao seu lado”. E terminou elogiando a iniciativa. “Com divulgação, as pessoas vão saber que estamos tentando ajudar, que existe esta preocupação. O Governo de Minas e a Fhemig tem feito um trabalho maravilhoso. É preciso reconhecer quando precisamos de ajuda. E, se vocês estiverem dispostos, a gente vai estar aqui”.
O vice-presidente da Fhemig, Ronaldo João da Silva, salientou que os usuários não apenas são vítimas de sua própria dependência química, mas também da violência. “O Governo de Minas teve, mais uma vez, coragem para enfrentar uma guerra: desta vez, contra o terrível poder das drogas. Nosso papel é ajudar com a nossa experiência”.
CMT
Reconhecido pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) como Centro de Excelência para tratamento de dependentes químicos, o Centro Mineiro de Toxicomania vem trabalhando para difundir junto à sociedade que o problema da dependência tem cura, e que os pacientes podem ser inseridos novamente ao convívio social.
A diretora do Centro Mineiro de Toxicomania, Raquel Pinheiro, avalia a importância da campanha. “Isto prova que, além de cumprir nosso papel assistencial, estamos cumprindo nossa função social, extrapolando os muros do CMT. É fundamental ir além do tratamento, abrir um espaço de discussão com a sociedade. Só assim começaremos a ter resultados positivos nesta batalha”.
O CMT tem capacidade para receber 225 pacientes em tratamento, sendo dotado de leitos de desintoxicação e repouso, espaço de permanência-dia, atendimentos individuais nas áreas de enfermagem, clínica médica, psicologia e psiquiatria, além das oficinas terapêuticas e orientação a familiares de usuários de álcool e outras drogas. O telefone do CMT é (31) 3217-9000.
Superação
Para apoiar a campanha, o contador de histórias Roberto Carlos Ramos narrou a sua história no mundo das drogas. Dos 6 aos 13 anos de idade, Roberto viveu longe da família, usando drogas e cometendo furtos nas ruas de Belo Horizonte, chegando a ser considerado um caso irrecuperável. “A droga te deixa vulnerável e a rua te devora, literalmente, nesta situação”. O que parecia não ter solução acabou de forma surpreendente. Roberto foi adotado por uma francesa, que o educou e o encaminhou no rumo certo. “Na Febem, tudo era: ‘você pode ter uma casinha, um empreguinho’. Minha mãe francesa dizia que eu podia ter um castelo, se quisesse e lutasse por ele”, lembra.
Ele revelou que hoje ganha a vida contando histórias pelo mundo inteiro e tem um padrão financeiro muito acima do que um dia ele podia imaginar. “Adotei várias crianças que viviam na mesma situação que um dia estive. Vou fazer por elas o que recebi. Tenham paciência e perseverança todos os dias e nunca se esqueçam que viemos ao mundo para brilhar. Tentem fazer o melhor agora, porque pode não haver uma segunda oportunidade”, aconselhou Roberto.
Hoje ele é pedagogo, mestre em Educação pela Unicamp, pós-graduado em Literatura Infantil pela PUC-MG, membro da Associação Internacional de Contadores de Histórias e Valorizadores da Expressão Oral Mundial (sediada em Marselha, França), e eleito como um dos dez maiores contadores de histórias do mundo, em Seattle, nos EUA. Sua história foi contada no filme O contador de Histórias, do diretor Luiz Villaça.
Desafio na saúde pública
O crack provoca euforia e autoconfiança por poucos minutos. E causa danos para a vida toda:
Intoxicação: Ao aquecer a latinha para inalar o crack, junto ao vapor da droga ele aspira alumínio, que danifica o cérebro, os pulmões, rins e ossos.
Fome e sono: O dependente quase não come ou dorme, se descuida da higiene e da aparência.
Ossos e músculos: O uso crônico pode levar à degeneração irreversível dos músculos esqueléticos.
Coração: A liberação da dopamina faz o usuário ficar agitado e eleva a adrenalina. A frequência cardíaca e a pressão arterial aumentam, causando problemas cardiovasculares.
Oscilações de humor: O crack lesiona o cérebro. Há perda de função de neurônios, deficiências de memória e de concentração e oscilações de humor.
Prejuízo cognitivo: Pode ser grave e rápido, abaixando o QI do usuário.
Na gravidez: O crack prejudica o desenvolvimento fetal, podendo causar graves danos ao sistema nervoso central e ao cérebro. Há maior risco de aborto, hemorragias, parto prematuro.
Pulmões: Os dependentes ficam vulneráveis à pneumonia e à tuberculose. Há evidências de que a droga causa problemas respiratórios agudos.
Doenças psiquiátricas: Em razão da ação no cérebro, quadros psiquiátricos mais graves, com alucinações e delírios, também podem ser desencadeados.
Sexo: o desejo sexual diminui. Os homens têm dificuldade para conseguir ereção. Os usuários adotam comportamento de risco, favorecendo as doenças sexualmente transmissíveis.
Morte: Pacientes podem morrer de doenças cardiovasculares e relacionadas com o enfraquecimento do organismo. Mas a causa mais comum de óbito é a exposição à violência e às situações de perigo.