José Carlos Paiva/Secom MG
Agricultor João Cimael Ferreira da Silva
Além de uma permanente geração de renda, visto que o plantio de lavouras acontece durante todo o ano, a produção de hortifrutigranjeiros envolve cerca de 280 trabalhadores rurais, principalmente mão de obra familiar. Nas comunidades envolvidas nas ações implementadas pela Emater-MG, em parceria com outros órgãos governamentais, o que não falta é oportunidade de trabalho. Além disso, praticamente não existe inadimplência quanto ao pagamento de financiamentos para a produção agrícola, pois toda a produção colhida é imediatamente comercializada nas centrais de abastecimento ou em sacolões.
Tradição
Partindo do fato da região constituída por oito comunidades rurais terem se consolidado, a partir da década de 1970, como uma das áreas mais tradicionais na produção de hortaliças, olerícolas e de alguns tipos de frutas, técnicos da Emater-MG investiram na organização dos produtores, tanto no aspecto de produção agrícola quanto de orientação social. Em parceria com o Banco do Nordeste, Banco do Brasil, Secretaria Municipal de Agricultura e, mais recentemente, por meio do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene), bem como do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em 1995 os agricultores fundaram a Associação dos Produtores de Hortifrutigranjeiros da Região do Pentáurea.
Com assistência técnica da Emater-MG e apoio financeiro do Governo de Minas, por meio do Projeto de Combate à Pobreza Rural do Estado de Minas Gerais (PCPR/MG), implementado pelo Idene e dos Bancos do Nordeste e do Brasil, os produtores consolidaram e aumentaram a produção agrícola, principalmente de frutas, chuchu, vagem, tomate, pimentão, abóbora italiana, couve, alface, coentro e berinjela. Paralelo à produção de alimentos, a floricultura também está sendo incrementada, principalmente em áreas onde predomina a mão de obra feminina.
O engenheiro agrônomo da Emater de Montes Claros, Robson Ferreira, e o técnico agrícola Adailton Alves Figueiredo destacam que o empenho dos produtores rurais tem sido fundamental para o êxito da produção agrícola na região do Pentáurea. Devido à predominância de solo arenoso, existem várias nascentes de importantes cursos d’água que formam a bacia do rio Verde Grande, um dos principais afluentes do rio São Francisco no Norte de Minas. Com assistência técnica da Emater-MG e introdução de modernos sistemas de irrigação, sobretudo micro aspersão e gotejamento, os produtores reduziram em cerca de 50% o consumo de água e aumentaram a produção de alimentos.
Atualmente, a título de exemplo, numa área de apenas um hectare, os produtores rurais colhem 75 toneladas de chuchu, 20 toneladas a mais do que a verificada há cerca de seis anos, quando os sistemas de irrigação foram substituídos por tecnologias mais modernas.
Bons resultados
Além de fornecerem produtos para merenda escolar municipal e para o Programa de Aquisição de Alimentos, gerenciado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os produtores estão em vias de fornecer produtos para escolas estaduais, por meio de entendimentos que vêm sendo conduzidos pela Secretaria de Estado de Educação (SEE). “Isso abre novas perspectivas para a agricultura familiar, além de valorizar o trabalho dos agricultores”, observa o agrônomo Robson Ferreira.
Com recursos do Governo do Estado repassados pelo Idene, atualmente a Associação dos Produtores de Hortifrutigranjeiros da Região do Pentáurea já conta com boa infraestrutura, além de galpão comunitário e uma fábrica de embalagens. A Emater-MG é a responsável pela elaboração de vários projetos para captação de recursos financeiros, por meio dos quais os produtores incrementam a produção agrícola. Os recursos repassados pelos Bancos do Nordeste e do Brasil são oriundos do Proger Rural e do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
“Estou entusiasmado em prestar assistência técnica aos produtores da região do Pentáurea porque vemos, na prática, o resultado de cada ação implementada pelo Governo de Minas no apoio às famílias. Na região não se vê falar em êxodo rural. Pelo contrário, muitos filhos de produtores estão retornando para suas comunidades, porque existem muitas oportunidades de trabalho”, destaca o técnico agrícola da Emater-MG, Adailton Figueiredo.
Valorização da terra
Em virtude do sucesso do trabalho na zona rural de Montes Claros, o preço do hectare foi valorizado na região do Planalto, Pentáurea e Lagoinha. Segundo a Emater-MG, além da dificuldade em se encontrar propriedades à venda, o preço médio de mil metros quadrados de área é oferecido a cerca de R$ 6 mil, enquanto o valor normal seria em torno de R$ 2 mil.
“Para mim, morar na zona rural é uma grande satisfação, pois tenho qualidade de vida. Moro a dez minutos da zona urbana de Montes Claros e, aqui na roça, desfruto de tranquilidade e conforto. Não falta nada para minha família. Tenho casa boa, luz, televisão, telefone e até internet. Estou muito feliz aqui”, confessa o produtor da comunidade de Lagoinha, José Maria Ferreira de Souza, popularmente conhecido como “Cheiro”. Ele trabalha na roça com dois filhos e, além disso, gera outros oito empregos diretos. Numa área de 16 hectares, se dedica à produção de chuchu, vagem, jiló, abóbora e berinjela, que lhe proporcionam comercialização mensal de 800 caixas de alimentos.
Além de garantir o sustento da família e emprego para os filhos, José Maria salienta que o trabalho dos produtores rurais tem sido valorizado. “O apoio da Emater é fundamental para o incremento da produção agrícola na região. Não tenho nada que reclamar. Atualmente, sou um dos fornecedores de produtos para a merenda escolar e, apesar de ter uma área pequena, estou conseguindo garantir o sustento da família”, destaca o produtor.
O agricultor João Cimael Ferreira da Silva também está satisfeito com o apoio da Emater-MG. Numa área de 20 hectares, ele produz dez diferentes produtos, entre eles abacaxi, laranja e maracujá. Ao todo, Cimael garante trabalho para dez pessoas, com as quais divide receitas e despesas. Juntos, por semana, eles comercializam 200 caixas de produtos agrícolas. “Estou feliz, pois me sinto útil para a sociedade. Estou produzindo alimentos, atendendo uma necessidade básica da população. Vejo que o produtor rural tem valor na sociedade”, conclui, orgulhoso, João Cimael.
Flores
Outros dois agricultores também revelam que não têm do que reclamar com a vida que levam na zona rural: o casal Francisca Margarete Dias e José Maria Vieira Ramos, o “Bahia”. Há seis anos, Margarete se dedica à produção de flores tropicais numa área de mil metros quadrados. Já o marido, comercializa 500 quilos de couve por semana, além de centenas de molhos de espinafre, cebolinha e coentro. Mesmo sem revelar a renda mensal que obtêm na área de 9,5 mil metros quadrados na localidade de Lagoinha, o casal ressalta que está “satisfeito”. “Tudo o que produzimos, é vendido. Muitas vezes, não temos condições de atender à procura”, finaliza Bahia.
Mesmo avessa a fotografias, Margarete Dias se sente orgulhosa de ser uma das principais fornecedoras de flores para igrejas, floriculturas e empresas organizadoras de casamentos e festas em Montes Claros. “Tudo o que consigo colher na semana é vendido. Não sobra para quem quer”, comemora.